sábado, 29 de março de 2014

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Era uma vez você.

 


    Era uma vez você as 5 horas da manhã sorrindo pra mim. Roupas pretas, cabelo na máquina 2, e velhos coturnos. Ninguém nunca tinha me falado da sua existência, até que você apareceu e me ofereceu um chá.
     Você tinha aquela mania de querer me satisfazer sempre. Me mimava, comprava-me discos velhos de vinil e algumas camisas de banda em mercados de pulga. Sempre complicado e com a cabeça baixa, roubava meu foco sempre que vinha gargalhando em minha direção. Ninguém nunca teria feito isso em público, mas você fez.
     Ninguém sabia que você detestava músicas calmas, apenas eu tinha consciência disso. Seu MP3 era daqueles mais antigos, porque você odiava tudo o que fosse moderno. Não havia ninguém mais careta que você.
     Suas mãos eram grandes, mas tornavam-se tão pequenas quando afastava-se de mim. Mas eu sabia que era apenas a distância me confundindo outra vez. Ninguém poderia ser como você. Ninguém poderia ter sua voz. Seus cabelos. Seu cheiro. E seu jeito de mover-se enquanto dormia.
    Seus dedos flutuavam enquanto tocava aquele velho piano do teu avô. Costumava me deixar tão sem graça a ponto de me fazer deitar por cima do instrumento e dormir te ouvindo tocar.

    Era uma vez você. Que abaixava novamente a cabeça enquanto contava-me sobre aquele sopro no coração. Sobre a doença que se espalhava pelo teu corpo nem tão magro, nem tão gordo. Mas o melhor corpo pra alguém com o cabelo na máquina 2.
    Havia o suficiente naquela noite pra que deitassemos juntos no sofá dos teus pais. Suas mãos estavam tão frias, e sua respiração tão quente quanto um calor de 34º graus na cidade de São Paulo.
   Você pediu pra que eu dormisse. Mas você adormeceu primeiro. E jamais acordou novamente.

   Era uma vez você. Que em menos de 1 ano me fez entender perfeitamente sobre os bons sopros no coração, diagnosticado com o seu nome. Que eu nunca soube. Jamais saberia.
   ''Me encontre em Montauk'', soprou em meus ouvidos a frase do meu filme preferido, enquanto você me movia para acordar as 9 da manhã.
    Era uma vez você. Que nunca existiu e que talvez, nunca exista.

   
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