terça-feira, 11 de junho de 2013

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Limerância

      


''Dessa vez eu caminhava dentre as árvores que haviam se molhado pela chuva da noite anterior. Eu pensava na vida. Nos livros. Nos discos que eu havia deixado cair. No meu par de calças favoritas que eu havia perdido. Uma gota caiu na minha testa e eu ri, fazendo com que os meus pensamentos voassem. 
       Não havia celular, internet. Não havia nada. Nada mesmo. Inclusive dentro de mim. Sentei no chão, sabe?! Daquele jeitinho, de perna de índio. Senti um pouco da 'grama' juntamente com terra que havia ali. Fechei meus olhos. Ouvi um barulho de galhos se quebrando. 
     - Quem ta ai ?! - perguntei sem exitar, porém, com medo. 
     Ninguém respondeu. Levantei. Comecei a andar. Um pássaro sobrevoou na minha cabeça eu olhei pra ele desconfiada. Vi uma sombra na árvore gigante que mais parecia um baobá. Me achei tão ridícula. Continuei andando e comecei a cantar ''The girl' do City and Colour. Olhei pras minhas botas e ri, pois achei engraçado a forma como elas estavam molhadas e por aquela folha rosa grudada na direita. 
     Ouvi um barulho de novo. Apressei meu passo. Senti um frio terrível na espinha. Coloquei meu capuz na cabeça. Decidi voltar pra casa. 
      - Sei que você tá assustada, mas não precisa. Sou eu. 
     Dessa vez, minha espinha não esfriou, travou de vez. Eu não sabia o que fazer. Minhas mãos simplesmente congelaram. Lembrei em pensar em Adrian. Lembrei que eu tinha esquecido o quão bonito e irritante ele poderia ser. Eu apertei meus passos, não queria olhar pra aqueles olhos castanhos da cor de amêndoas, não queria olhar pra forma como ele andava curvado e nem pro seu par de tênis velho.
    Coloquei meus fones de ouvido, e Adrian continuava a me seguir. Eu queria olhar pro lado pra ver se ele estava ali, mas não queria sentir a respiração dele mesmo que tão longe.
    Lembro como se fosse ontem, eu no mesmo lugar, há 3 meses atrás. Adrian apareceu com aquele olhar, aquele caminhar, e aquele jeito meio torto de falar. Usava uma blusa dos Smiths, calças escuras e o mesmo par de  tênis velho. Quase sempre com a blusa de frio cinza, que como contara, foi dada pela a avó quando tinha 15 anos. Suas mãos eram frias e com algumas cicatrizes, que pra mim, eram perfeitas. Aquela tatuagem no antebraço, aquela voz, e todo o resto. Limerância.
     Não queria poder lembrar de tudo, não queria poder estar ali agora. Não queria que ele sequer tivesse tocado meu cabelo ruivo. Mas ele tocou.
    - Olivia, olha pra mim.
    Ele se aproximou. Respirou no meu ouvido e cantou. Segredos de liquidificador. Me contou um respirar. E por fim, me abraçou. Não pude empurra-lo, não pude sequer dizer uma palavra. E ele sabia disso.
    - Me desculpa . – Ele disse
    - Não posso Adrian. Você foi embora.
   Ficou de frente a mim. Tocou minhas mãos. Sorri internamente com as cicatrizes. Tirou o cabelo do meu rosto. Sorri de novo pela folha rosa ainda grudada em minha bota. Tocou meu nariz. E respirou. E disse :
    - Fica.
E eu disse – Não.
   Seu corpo agora parecia rígido próximo ao meu. Eu simplesmente não podia esquecer que Adrian havia me deixado. Não podia esquecer. Aquilo me matava a cada dia que passava. Eu sentia medo dele. E de mim. E dele. E de nós. Eu saí correndo. E ele ficou ali parado. Me olhando. E meus cabelos voavam. E. Não havia saída pra nós. Nem pra mim. Nem pra ele. ''

                                                                                                         
                                                    

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