''Dessa vez eu caminhava dentre as árvores que haviam se molhado
pela chuva da noite anterior. Eu pensava na vida. Nos livros. Nos discos que eu
havia deixado cair. No meu par de calças favoritas que eu havia perdido. Uma
gota caiu na minha testa e eu ri, fazendo com que os meus pensamentos
voassem.
Não havia celular, internet. Não havia
nada. Nada mesmo. Inclusive dentro de mim. Sentei no chão, sabe?! Daquele
jeitinho, de perna de índio. Senti um pouco da 'grama' juntamente com
terra que havia ali. Fechei meus olhos. Ouvi um barulho de galhos se
quebrando.
- Quem ta ai ?! - perguntei sem exitar, porém,
com medo.
Ninguém respondeu. Levantei. Comecei a andar.
Um pássaro sobrevoou na minha cabeça eu olhei pra ele desconfiada. Vi
uma sombra na árvore gigante que mais parecia um baobá. Me achei
tão ridícula. Continuei andando e comecei a cantar ''The girl' do City and
Colour. Olhei pras minhas botas e ri, pois achei engraçado a forma como elas
estavam molhadas e por aquela folha rosa grudada na direita.
Ouvi um barulho de novo. Apressei meu passo. Senti
um frio terrível na espinha. Coloquei meu capuz na cabeça. Decidi
voltar pra casa.
- Sei que você tá assustada, mas não precisa.
Sou eu.
Dessa vez, minha espinha não esfriou, travou de vez.
Eu não sabia o que fazer. Minhas mãos simplesmente congelaram. Lembrei em
pensar em Adrian. Lembrei que eu tinha esquecido o quão bonito e irritante ele
poderia ser. Eu apertei meus passos, não queria olhar pra aqueles olhos
castanhos da cor de amêndoas, não queria olhar pra forma como ele andava
curvado e nem pro seu par de tênis velho.
Coloquei meus fones de
ouvido, e Adrian continuava a me seguir. Eu queria olhar pro lado pra ver se
ele estava ali, mas não queria sentir a respiração dele mesmo que tão longe.
Lembro como se fosse
ontem, eu no mesmo lugar, há 3 meses atrás. Adrian apareceu com aquele olhar,
aquele caminhar, e aquele jeito meio torto de falar. Usava uma blusa dos Smiths,
calças escuras e o mesmo par de tênis velho.
Quase sempre com a blusa de frio cinza, que como contara, foi dada pela a avó
quando tinha 15 anos. Suas mãos eram frias e com algumas cicatrizes, que pra
mim, eram perfeitas. Aquela tatuagem no antebraço, aquela voz, e todo o resto.
Limerância.
Não queria poder
lembrar de tudo, não queria poder estar ali agora. Não queria que ele sequer
tivesse tocado meu cabelo ruivo. Mas ele tocou.
- Olivia, olha pra mim.
Ele se aproximou.
Respirou no meu ouvido e cantou. Segredos de liquidificador. Me contou um
respirar. E por fim, me abraçou. Não pude empurra-lo, não pude sequer dizer uma
palavra. E ele sabia disso.
- Me desculpa . – Ele
disse
- Não posso Adrian. Você
foi embora.
Ficou de frente a mim.
Tocou minhas mãos. Sorri internamente com as cicatrizes. Tirou o cabelo do meu
rosto. Sorri de novo pela folha rosa ainda grudada em minha bota. Tocou meu
nariz. E respirou. E disse :
- Fica.
E eu disse – Não.
Seu corpo agora parecia rígido
próximo ao meu. Eu simplesmente não podia esquecer que Adrian havia me deixado.
Não podia esquecer. Aquilo me matava a cada dia que passava. Eu sentia medo
dele. E de mim. E dele. E de nós. Eu saí correndo. E ele ficou ali parado. Me
olhando. E meus cabelos voavam. E. Não havia saída pra nós. Nem pra mim. Nem
pra ele. ''
quase chorei agora, boa história. Vc tem talento.
ResponderExcluirPoxa, MUITO obrigada mesmo. Em breve postarei mais histórias <3
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